Ser professor hoje é uma das tarefas mais complexas do mundo contemporâneo. Envolve instruir, acolher e motivar
Valorizar o professor é muito mais do que reconhecer uma profissão: é reafirmar a base sobre a qual todo aprendizado se sustenta. Quando o docente é respeitado, a escola se torna um espaço de confiança e propósito; o aluno encontra referências positivas; e a sociedade fortalece seus próprios alicerces.
Para a educadora Cris Poli, coordenadora do Ensino Fundamental I da Escola do Futuro Brasil, a presença do professor é insubstituível. “O professor é referência de comportamento, mediador de conflitos e exemplo de superação. Ele não apenas ensina conteúdos, mas forma caráter, ajuda o aluno a lidar com emoções e desperta o prazer de aprender”, afirma. Em tempos de excesso de informação, explica, o papel do educador é justamente transformar dados em conhecimento e convivência em aprendizado.
Ser professor hoje é uma das tarefas mais complexas do mundo contemporâneo. Envolve ensinar, acolher, motivar e inspirar. “Não basta dominar conteúdos. É preciso lidar com diferentes realidades familiares, desenvolver competências socioemocionais e, ao mesmo tempo, manter viva a paixão por ensinar”, destaca a educadora.
Um levantamento do Ministério da Educação, em parceria com Consed, Undime e Itaú Social, divulgado pela Agência Brasil em setembro de 2025, mostra a urgência do tema. Menos de 40% dos alunos afirmam valorizar seus professores, e o índice cai ainda mais entre estudantes dos anos finais do ensino fundamental. Para Cris Poli, esse dado reflete mudanças sociais profundas. “A sociedade tem se encarregado de criticar os professores e tirar o valor que eles realmente tinham e continuam tendo”, observa.
Ela explica que o avanço da tecnologia e o acesso ilimitado à informação contribuíram para a ideia de que o professor se tornou dispensável. “Hoje, muitos alunos acham que podem aprender tudo sozinhos, e essa visão acaba desvalorizando o papel do educador. Mas a presença humana é o que transforma o aprendizado em experiência real.”
Quando o respeito se perde em casa, ele não chega à escola
Segundo Cris Poli, a valorização do professor começa dentro de casa. “Quando os pais opinam, criticam ou desautorizam os professores na frente dos filhos, estão transmitindo a ideia de que o trabalho deles não merece respeito”, diz. Essa postura tem reflexo direto em sala de aula. “Isso é falado na frente das crianças e acaba influenciando o desrespeito em relação aos educadores.”
Estudos ajudam a entender essa relação. A pesquisa Relação familiar e relação professor/aluno: análise das possíveis associações (Universidade Ibirapuera, 2022) mostra que professores que percebem maior afinidade com seus alunos também relatam menos conflitos familiares no ambiente escolar. Em outras palavras, a forma como a família se relaciona reflete no comportamento do aluno em sala de aula.
Outro estudo, publicado no Research, Society and Development Journal (2023), aponta que escolas com vínculos afetivos fortes entre alunos e professores têm melhores índices de engajamento e aprendizagem. Para Cris Poli, os dados confirmam o que se vê na prática. “Antigamente, as famílias passavam mais tempo juntas, havia troca de experiências e valores. Hoje isso é muito escasso, e a ausência dessa convivência contribui para a perda de respeito e da valorização do trabalho do professor.”
O vínculo como ferramenta de pertencimento e aprendizagem
Segundo a educadora, na Escola do Futuro Brasil, o vínculo entre professores e alunos é prioridade. Segundo a educadora, essa relação é especialmente forte nos primeiros anos do ensino fundamental, quando o mesmo professor acompanha as crianças em várias disciplinas. “O acolhimento, o abraço, o olho no olho e o ouvir as dificuldades fazem toda a diferença”, explica. Essa proximidade cria um ambiente seguro e de confiança que favorece o aprendizado e o desenvolvimento emocional.
Nos anos seguintes, essa convivência tende a se enfraquecer. “Os alunos do Fundamental II e do Ensino Médio têm menos acesso aos professores, porque esses profissionais trabalham em várias escolas e dispõem de pouco tempo”, observa. Essa rotina fragmentada, segundo ela, dificulta a criação de vínculos e o sentimento de pertencimento.
Para Cris, reconstruir vínculos é essencial para restaurar o prestígio da profissão. Isso passa por repensar práticas pedagógicas, criar espaços de convivência e fortalecer a parceria com as famílias. “A responsabilidade pela educação dos filhos é dos pais, mas a escola pode apoiar esse processo quando existe concordância de valores e objetivos”, afirma.
Na rotina da Escola do Futuro, esse princípio é trabalhado com encontros regulares e projetos que aproximam professores, pais e alunos. “Quando os pais reconhecem o valor do professor, os filhos passam a enxergá-lo com respeito e gratidão”, completa.
A presença dos pais é o primeiro passo para resgatar o respeito
Nenhuma tecnologia, lembra a educadora, é capaz de substituir o tempo de convivência entre pais e filhos. “Tenho conversado com muitos pais que dizem não saber como competir com as telas. Mas a única coisa que pode substituir a tela é o tempo de qualidade — um tempo de intimidade e relacionamento com os filhos”, ressalta.
Para Cris Poli, esse diálogo é o alicerce do respeito que se estende à escola. “Quando há espaço para conversa, troca e escuta, falar sobre respeito pelos professores se torna algo natural”, afirma. O problema da desvalorização, segundo ela, não é apenas institucional — é humano. “O professor ensina, mas quem confirma esse aprendizado é a família. Quando pais e escola caminham juntos, os resultados são duradouros.”
Em um tempo em que a pressa e o individualismo dominam a rotina, valorizar o professor é um ato de esperança. É escolher o diálogo em vez da crítica e o vínculo em vez da distância. Como conclui Cris Poli, “a educação é uma parceria — e o respeito começa em casa.”





