Como identificar a ansiedade em crianças e adolescentes?

Como a pressão acadêmica e social afeta o bem-estar dos estudantes

A ansiedade escolar tem se tornado um problema crescente, afetando o desempenho e o bem-estar emocional de crianças e adolescentes. O medo de errar, a busca por excelência acadêmica, as dificuldades de socialização e a pressão por resultados geram estresse, podendo comprometer o aprendizado e a saúde mental dos alunos. Quando a ansiedade se torna persistente, é essencial identificá-la e agir para minimizar seus impactos.

Principais causas da ansiedade escolar

A adaptação à rotina escolar pode ser um dos primeiros desafios enfrentados pelos alunos. Mudanças de escola, de turma ou o aumento da carga horária geram insegurança e medo do desconhecido. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP, 2022), crianças que têm dificuldades nessa adaptação apresentam mais sintomas como insônia, dores de estômago e irritabilidade.

A relação com os colegas também pode ser um fator de ansiedade. O medo da rejeição e a necessidade de aceitação, principalmente em um ambiente competitivo, podem aumentar a insegurança. O psiquiatra infantil Gustavo Teixeira, autor de Mentes Ansiosas, afirma que “a ansiedade social pode se manifestar de diversas formas, desde a evitação de interações até crises de pânico diante de exposições em público”.

Dificuldades no aprendizado são outro fator relevante. Alunos que enfrentam desafios em determinadas disciplinas podem desenvolver medo de errar, evitando participar de atividades ou demonstrando desmotivação. Segundo o Instituto de Psiquiatria da USP (2023), 35% dos estudantes brasileiros relatam altos níveis de ansiedade acadêmica relacionados ao desempenho.

A proximidade de provas é um dos momentos mais críticos para estudantes ansiosos. O fenômeno conhecido como ansiedade de desempenho gera sintomas como suor excessivo, taquicardia, insônia e pensamentos catastróficos. Além disso, cresce a ansiedade competitiva, em que estudantes se tornam obcecados por ter notas superiores às dos colegas. Esse comportamento pode levar à exaustão mental e emocional. A diretora da Escola do Futuro Brasil, Ivonne Muniz, alerta que “a comparação constante e a necessidade de ser o melhor podem transformar o aprendizado em um fardo, prejudicando a autoconfiança e a saúde emocional”.

Como identificar a ansiedade escolar

A detecção precoce da ansiedade é essencial para evitar impactos prolongados. Alguns sinais incluem dores de cabeça e estômago frequentes, alterações no apetite, dificuldades para dormir, irritabilidade e crises de choro sem motivo aparente.

No ambiente escolar, alunos ansiosos podem evitar atividades em grupo, demonstrar medo excessivo de errar e procrastinar tarefas escolares. Além disso, sintomas físicos como tremores, sudorese e taquicardia antes de avaliações ou apresentações são indicativos de que a ansiedade está comprometendo o bem-estar.

O Papel da Escola e da Família

Segundo Ivonne Muniz é fundamental que a escola crie um ambiente acolhedor e menos competitivo. “Os professores focam em evitar comparações e adotam metodologias que priorizem o aprendizado individual, valorizando o progresso de cada estudante, e não apenas os resultados”, explica.

O papel da família também é essencial, pois crianças cobradas excessivamente quanto a desempenho escolar e que sentem que seus erros são punidos com rejeição ou decepção têm mais chances de desenvolver ansiedade e baixa autoestima. Dessa forma, os pais devem incentivar o esforço e o desenvolvimento das crianças sem colocar a perfeição como objetivo absoluto.

A psicanalista, psicopedagoga e educadora da Escola do Futuro Brasil, Silvia Tocci Masini, enfatiza que o equilíbrio entre estudo e lazer é fundamental para um desenvolvimento saudável. Para ela, é essencial que crianças e adolescentes tenham momentos de lazer e brincadeiras, sem serem forçados a adotar uma rotina excessivamente rígida e cheia de compromissos. “Os pais não devem privá-los de explorar, brincar e aprender de maneira lúdica. Isso pode levar a um aumento do estresse, da ansiedade e da pressão, além de prejudicar o desenvolvimento saudável”, afirma.

Além disso, ela alerta que a presença da família em momentos importantes é determinante para evitar comportamentos ansiosos. “Ouvir com atenção o que dizem, compreender suas necessidades e reconhecer sinais de ansiedade são atitudes fundamentais. Isso envolve afastar distrações excessivas com dispositivos digitais e criar oportunidades para compartilhar momentos em família, como desfrutar das refeições juntos. Essas práticas são essenciais para garantir um crescimento saudável e equilibrado”, aconselha.

Silvia Tocci Masini também destaca a importância de um ambiente tranquilo para um sono adequado. No dia a dia, agir com leveza e bom humor contribui para reduzir o estresse e a ansiedade. “O riso e a descontração são aliados poderosos no combate ao estresse e podem proporcionar uma infância mais equilibrada”, reforça.

Além dessas estratégias, Ivonne Muniz destaca que é papel da escola implementar programas de educação socioemocional, que ajudam os alunos a desenvolver habilidades para lidar com o estresse, a frustração e a pressão por desempenho. Um estudo da Universidade de Harvard (2021) revelou que escolas que adotam essa abordagem registram uma redução de até 40% nos casos de ansiedade escolar.

Quando a ansiedade interfere significativamente na rotina escolar e na qualidade de vida do estudante, buscar apoio profissional é fundamental. “Psicólogos e terapeutas especializados podem ajudar crianças e adolescentes a desenvolver estratégias para enfrentar seus medos e inseguranças de maneira saudável”, aconselha a diretora da EDF.

Conclusão

A ansiedade escolar não deve ser encarada como algo inevitável. Embora seja natural sentir nervosismo em momentos específicos, a ansiedade excessiva compromete o bem-estar e o desempenho acadêmico. Para criar um ambiente mais acolhedor e motivador, professores, pais e a escola devem trabalhar juntos.

Detectar sinais precoces e implementar estratégias de apoio são medidas essenciais para garantir que a escola seja um espaço de crescimento e aprendizado saudável, e não um ambiente de medo e pressão excessiva. Estimular o equilíbrio entre estudo, lazer e convívio social é essencial para que as crianças e adolescentes possam desenvolver autoconfiança e bem-estar emocional.

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