O desenvolvimento da inteligência emocional e os traços de caráter, que são as habilidades comportamentais que dizem respeito às relações interpessoais, também devem ser aprendidas em sala de aula.
Hoje, quando um jovem entra no mercado do trabalho, uma das maiores exigências é que eles, além de terem noções técnicas – chamados de hard skills, tais como a fluência em idiomas, conhecimentos adiantados em softwares, certificação em cálculos matemáticos -, também possuam inteligência emocional, conhecido na atualidade como soft skills. Essas habilidades comportamentais dizem respeito às relações interpessoais como comunicação, liderança, trabalho em equipe, resolução de problemas, tomada de decisão, resiliência, flexibilidade, entre outras características. Se adiantando a essa exigência recorrente da área profissional, a escola também pode contribuir com o desenvolvimento dessas habilidades interpessoais.
Isso é importante, por ser uma construção de longo prazo e fica bem mais fácil de ser desenvolvida quando a personalidade ainda está em evolução.
Afinal, a inteligência emocional nada mais é do que aquilo que conhecemos também como “caráter”, e sim,é possível desenvolver as práticas emocionais de forma que o indivíduo se sinta mais satisfeito e eficiente na vida, dominando hábitos mentais que promovam produtividade. Com isso, a construção de soft skills na educação se torna fundamental.
Segundo a psicanalista, psicopedagoga e educadora da Escola do Futuro, Silvia Tocci Macini, quando formamos um ser humano ele precisa de valores e isso faz toda a diferença. “O estudante passa a entender qual é o seu espaço e qual é o espaço do outro, qual é o seu direito e qual é o direito do outro. Na EDF adotamos uma prática do ensino mensal, para os alunos de todas as séries, onde abordamos diferentes traços de caráter, que será informado a família, para que também interaja com o ensinamento. Isso dá aos alunos uma importante base, pois cada princípio é para queele possa crescer mais seguro de si e saber o que acontece no entorno, como os tijolinhos ilustrados no símbolo da escola”, explica.
Para Priscila Moraes, que é coordenadora Infantil, o caráter é moldado por influências familiares, sociais e culturais – colocando a escola no importante papel deste desenvolvimento. “Esse ensino de atitudes comportamentais é uma tarefa colaborativa que envolve educadores, pais e a comunidade. É fundamental que o currículo educacional valorize, intencionalmente, o desenvolvimento do caráter, deste modo os alunos podem aprender a refletir e discutir questões éticas, valores, responsabilidade social e cidadania, favorecendo que atuem de modo digno em seu contexto social. É um ensinamento que também envolve exemplos, pois ao demonstrar respeito, empatia, honestidade e cooperação, os educadores influenciam os alunos a agirem de modo semelhante. Modelar comportamentos com exemplos positivos é essencial para qualquer aprendizado”, esclarece.
Cris Poli – que é coordenadora na Escola do Futuro e esteve à frente da versão brasileira da Super Nanny, por muito tempo, – afirma que a criança não nasce com caráter: “Os traços de caráter, que vão orientar o relacionamento delas com o mundo em volta, começa de maneira natural na infância, quando interage com a família no dia a dia e tem uma continuidade com a escola.
Primeiro, são ensinados pelos pais e posteriormente pela escola. A instituição educacional é um braço da família e, consciente ou inconscientemente, tem essa função também. Creio que a escola, assim como a família, precise tomar consciência da tremenda responsabilidade que cabe a eles e definirem quais são os princípios e valores que nortearão os traços de caráter a serem inculcados”, explana.
Segundo ela, muito mais do que preparar a criança e o jovem para o mercado profissional, o desenvolvimento da inteligência emocional prepara o indivíduo para o mundo. Já que, pessoas com inaptidões interpessoais não encaram somente dificuldades no trabalho, mas também na vida. Afinal, as pessoas se relacionam o tempo todo com outras pessoas, sejam colegas de escola ou trabalho, amigos, filhos, familiares, entre outros. Muitas delas são complicadas, com qualidades, aspirações, valores e temperamentos díspares.
Por isso, desenvolver soft skills desde a infância e adolescência é muito importante para saber lidar com as complexidades dessas relações, tornando-as mais saudáveis e harmônicas.
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